Hoje tem início mais uma Copa do Mundo. O Brasil vira uma grande festa nesse período, são ruas enfeitadas com bandeirinhas, calçadas e muros pintados de verde e amarelo. É quando o patriotismo chega ao seu ápice. Toda energia é canalizada para nossa seleção. São homens, mulheres, crianças, que, gostando ou não de futebol acompanham a seleção canarinho. É uma febre que toma conta de corações e mentes da grande maioria de nós, brasileiros. E aqui a festa começa com esses grandes mestres brasileiros, “poetando” sobre futebol.
O futebol brasileiro evocado da Europa
A bola não é a inimiga
como o touro, numa corrida;
e embora seja um utensílio
caseiro e que se usa sem risco,
não é o utensílio impessoal,
sempre manso, de gesto usual:
é um utensílio semivivo,
de reações próprias como bicho
e que, como bicho, é mister
(mais que bicho, como mulher)
usar com malícia e atenção
dando aos pés astúcias de mão.
João Cabral de Melo Neto
O gol
A esfera desce
do espaço
veloz
ele a apara
no peito
e a pára
no ar
depois
com o joelho
a dispõe a meia altura
onde
iluminada
a esfera
espera
o chute que
num relâmpago
a dispara
na direção
do nosso
coração.
Ferreira Gullar
O anjo de pernas tortas
A um passe de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.
Vem-lhe o pressentimento; ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento,
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés – um pé de vento!
Num só transporte, a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.
Garrincha, o anjo, escuta e atende: Gooooool!
É pura imagem: um G que chuta um O
Dentro da meta, um L. É pura dança
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