No dia 14 de março comemora-se o
Dia Nacional da Poesia. A data é uma homenagem ao nascimento do escritor baiano
Castro Alves.
Para lembrar esta data postamos poesias de alguns poetas brasileiros.
A DUAS FLORES
São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez no mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.
Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!
São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez no mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.
Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!
Castro Alves
O poeta Antônio Frederico de Castro
Alves nasceu na cidade de Curralinho/BA, no dia 14 de março
de 1847.
Faleceu em Salvador/BA, em 6 de julho
de 1871.
A MORINGA
Entre
sedes e cansaços
a moringa se reparte,
doando-se em água fresca,
para que os homens se fartem.
a moringa se reparte,
doando-se em água fresca,
para que os homens se fartem.
No
peitoril da janela,
sobre o pinto carcomido,
repousa ao vento da tarde.
Longe, o roçado de milho.
sobre o pinto carcomido,
repousa ao vento da tarde.
Longe, o roçado de milho.
Há marcas
fundas na argila,
invisíveis a olho nu.
São cicatrizes de fístulas
abertas no barro cru,
invisíveis a olho nu.
São cicatrizes de fístulas
abertas no barro cru,
Marcas de
sangue e de lágrimas
e suor de gerações,
que, nascidas na miséria,
na miséria morrerão.
e suor de gerações,
que, nascidas na miséria,
na miséria morrerão.
A mão que
molda a moringa,
molda panela, alguidar,
até que a Morte a liberte
desse ofício de moldar.
molda panela, alguidar,
até que a Morte a liberte
desse ofício de moldar.
Deífilo
Gurgel
Natural do município de Areia Branca, Deífilo Gurgel chegou
a Natal, em 1944, com 18 anos de idade, para cursar o colegial. Folclorista, poeta,
pesquisador, professor e escritor. Faleceu em 06/02/2012
APRENDIZADO
Do mesmo modo que te abriste à alegria
abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.
Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que a vida só consome
o que a alimenta.
abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.
Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que a vida só consome
o que a alimenta.
Ferreira Gullar, pseudônimo
de José Ribamar Ferreira (São Luís, 10 de
setembro de 1930)
é poeta,
crítico de arte, biógrafo,
tradutor, memorialista e ensaísta
brasileiro
e um dos fundadores do neoconcretismo
MOTIVO
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E sei que um dia estarei mudo:
- mais nada
Cecília Meireles
Poetisa, pintora, jornalista e professora, Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901, na Tijuca, Rio de Janeiro. Falece no Rio de Janeiro em 9 de novembro de 1964.
POETAS VELHOS
Bom dia, poetas velhos.
Me deixem na boca
o gosto dos versos
mais fortes que não farei.
Dia vai vir que os saiba
tão bem que vos cite
como quem tê-los
um tanto feito também,
acredite.
Me deixem na boca
o gosto dos versos
mais fortes que não farei.
Dia vai vir que os saiba
tão bem que vos cite
como quem tê-los
um tanto feito também,
acredite.
Paulo Leminski
Escritor, tradutor, poeta, e
professor. Nasceu em 24 de agosto 1944, em Curitiba, Paraná. Faleceu em 07 de
junho 1989 (Curitiba, PR).
ELEGIA
Não
retornei aos caminhos
que me
trouxeram do mar.
Sinto-me
brancos desertos
onde as
dunas me abrasando
tarjam
meus olhos de sal
dum
pranto nunca chorado,
dum
terror que nunca vi.
Vivo hoje
areias ardentes
sonhando
praias perdidas
com
levianos marujos
brincando
de se afogar,
com
rochedos e enseadas
sentindo
afagos do mar.
Tudo
perdi no retorno,
tudo ficou
lá no mar:
arrancaram-me
das ondas
onde
nasci a vagar,
desmancharam
meus caminhos
- os
inventados no mar:
depois,
secaram meus braços
para eu
não mais velejar.
Meus
pensamentos de espumas,
meus
peixes e meu luar,
de tudo
fui despojada
(até das
fúrias do mar)
porque já
não sou areias,
areias
soltas de mar.
Transformaram-me
em desertos,
ouço meus
dedos gritando
vejo-me
rouca de sede
das leves
águas do mar.
Nem
descubro mais caminhos,
já nem
sei também remar:
morreram
meus marinheiros,
minha
alma, deixei no mar.
Pudessem
meus olhos vagos
ser
ostras, rochas, luar,
ficariam
como as algas
morando
sempre no mar.
Que
amargura em ser desertos!
Meu rosto
a queimar, queimar,
Meus
olhos se desmanchando
-
roubados foram do mar.
No
infinito me consumo:
acaba-se
o pensamento.
No
navegante que fui
sinto a
vida se calar.
Meus
antigos horizontes,
navios
meus destroçados,
meus
mares de navegar,
levai-me
desses desertos,
deitai-me
nas ondas mansas,
plantai
meu corpo no mar.
Lá,
viverei como as brisas.
Lá, serei
pura como o ar.
Nunca
serei nessas terras,
Que só
existo no mar.
Zila Mamede
Poetisa e bibliotecária, Zila nasceu em
1928, em Nova Palmeira, Paraíba. Mudou-se com a família para Currais Novos (RN),
ainda pequena. Faleceu em 1985.
POEMA DE SETE FACES
Quando nasci, um anjo
torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira,
Minas Gerais, em 31 de outubro de 1902. Faleceu no Rio de Janeiro, 17 de agosto
de 1987.
Foi poeta,
contista
e cronista.
FENECER
Feneço na ausência
dos homens cor de bronze
do prepúcio de púrpura.
Quem me lapidou
esqueceu de me tirar
o veneno.
Ateio
fogo na minha própria
teia.
Como quem preserva fortalezas
corto minhas / alheias
veias.
Feneço, infinitamente
na presença dos homens
que têm grandes pés e nenhuma fé.
Que me rasgam a carne
e me sepultam em suas glandes.
Não fosse eu
uma pessoa de múltiplos escudos
viveria a vida toda
como um único vestido
de veludo.
Feneço na ausência
dos homens cor de bronze
do prepúcio de púrpura.
Quem me lapidou
esqueceu de me tirar
o veneno.
Ateio
fogo na minha própria
teia.
Como quem preserva fortalezas
corto minhas / alheias
veias.
Feneço, infinitamente
na presença dos homens
que têm grandes pés e nenhuma fé.
Que me rasgam a carne
e me sepultam em suas glandes.
Não fosse eu
uma pessoa de múltiplos escudos
viveria a vida toda
como um único vestido
de veludo.
Marize de Castro
Poeta, jornalista, editora,
Marize Lima de Castro nasceu em Natal (RN), em 28.12.1962.
Arnaldo Antunes
FOTO: VALDECI DE OLIVEIRA
Arnaldo Antunes nasceu em São Paulo no dia 2 de setembro
de 1960.
É músico, poeta, compositor, vj e artista visual.
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